Ontem encontrei um livro que um dia foi meu. Um livro que fazia parte de uma coleção que não completei. E que forma surpreendente e poética de se encontrar um livro de título tão sugestivo...
Meu namorado tem uma banquinha de livros e revistas, um sebo, legal, onde reside e se "entoca" pra pensar e tudo mais. E eu adentro por vezes intempestiva no seu território, universo peculiar que tanto amo. Pois ontem, ao adentrar em seu recinto referido, me deparo com o livro mencionado: "A disciplina do amor", de Lygia Fagundes Telles. Peguei-o com carinho e apresentei ao Renato (nome do meu namorado):
- Eu tinha um livro exatamente igual a este. É, eu tinha este livro, bem igual mesmo.
- Esse livro é teu, Vanessa.
- ? - Ele me disse isso olhando para o livro, meio que fechando os olhos, retomando a sonolência pós-meio-dia, neste calor terrível. Eu imediatamente abri o livro em busca de um indício que confirmasse o que ele disse, pois eu não acreditei que pudesse ser realmente o meu livro. Ao mesmo tempo em que eu tratava de abrir o livro, ele tratava de me dizer que abrisse. Simultaneamente. E lá estava, na contracapa, meu nome. Com data e tudo. Assinadinho, adquirido em 1988. Eu era uma menina e curtia literatura brasileira. Bem, curtia literatura.
- Como chegou em tuas mãos? Incrível! Nem sei como o perdi, pra quem emprestei, e agora está aqui! Veio parar aqui, na tua banquinha! Que poético!
- É, é teu livro, Vanessa. Encontrei ontem, debaixo de outros livros, quando estava limpando as prateleiras.
- Lembra quem te vendeu? Ou foi troca? Lembra quem te trouxe ele? Quem sabe seja pra quem emprestei...
- Não sei, é um cara que passa por aí de bicicleta, com umas crianças...
- Me mostra quando ele passar por aí?
- Tudo bem. Pode levar teu livro.
- Já não é mais meu livro, está contigo, é teu. Seria meu só por ter meu nome? Mesmo que seja como ter sido roubado, não é mais meu...
- Sim, é teu.
Bem, não vou prosseguir no nosso diálogo, que não interessa a ninguém senão a mim, sei disso. Concluo dizendo que ele ficou com o livro, fará melhor proveito, pois tenho muita coisa pra ler e estudar. Embora já não lembre do livro, lembro dele sem saber o que dizia, posso afirmar que é um sinal de Deus, uma benção ele ter vindo parar aqui, assim, de repente, dizendo algo a nós, num momento em que precisávamos deste sinal, deste toque divino de poesia, de Deus. Quero dar uma lida (ou relida) neste livro e então darei minha opinião por aqui. Com tanto livro meu espalhado (inclusive desta coleção de literatura nacional), justo este e logo agora num momento meio delicado, ele surge... Benção. Como não registrar tamanha poesia? Poesia não é apenas a escrita, mas momentos únicos. Preciso de mais disciplina e certamente aprender mais de amor, pois sem ele eu nada sou. Deus é amor.
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